quinta-feira, 17 de dezembro de 2009


Ás vezes sinto, talvez um dos males que persegue continuamente os grandes artistas e poetas da história. Também sou artista, nem perto dos grandes, mas sou também. E às vezes sem querer, de mansinho, esse mal me atinge por completo. Meu corpo e alma viram melancolia e eu melancólica penso em tudo que me envolve. De dentro pra fora entro no meu casulo, seguro, onde me faço companhia. E lá descubro lugares incriveis, que talvez só eu conheça.
Muitos pintores sofriam desse mal, Van Gogh é um exemplo. Ele era um gênio, mas a solidão o pertencia. Por vezes usava disso sua grande arma para pintar, pintar..
Triste, foi que ele foi reconhecido só depois da morte.Michelangelo dizia não ser artista plástico, mas pintou o teto da capela sistina, dizia não ser poeta, mas fez poemas onde pudia assim se libertar da moral exigida na época.
Mas grande parte dos poetas, usavam das suas palavras para fugir da solidão que os atormentava, ou da tristeza que insitia em ficar. Alvares de Azevedo talvez aceitasse sua tristeza:

"Minha alma tenebrosa se entristece,
É muda como sala mortuária
Deito-me só e triste, e sem ter fome
Vejo na mesa a ceia solitária..."

O genial Mário Quintana também falava da sua tristeza, uma tristeza por ter perdido algúem. E esse algúem talvez tenha deixado um vazio que ele precisava transpor..

"Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!"

Mas talvez mais melancólico de todos e talvez o mais triste tenha sido Fernando Pessoa.Quando leio seus poemas, sinto como se ele tivesse perdido tudo na vida, não tivesse ninguém, e que só esperava os dias passarem sem esperança alguma de felicidade, só observando o seu redor e escrevendo..

"Cansa sentir quando se pensa.
No ar da noite a madrugar
Há uma solidão imensa
Que tem por corpo o frio do ar.
Neste momento insone e triste
Em que não sei quem hei de ser,
Pesa-me o informe real que existe
Na noite antes de amanhecer..."

Às vezes ouso me sentir como eles, por vezes triste, por vezes sozinha. Mas, diferente desses artistas das palavras, não sei brincar com isso, nem sei aceitar, sei apenas sentir. E quando sinto, sinto-me mal. Não falo pra ninguém, só comigo.
Se as paredes do meu quarto falassem, saberiam que muitas vezes escondi e guardei o choro, por outras só fiquei sozinha mesmo. Cada vez é um refúgio: um dia é uma música, um dia é o céu, um dia é uma foto, no outro não é nada.
Mas talvez eu encontre, como eles, os poetas,  um jeito de transpor isso em letras e palavras. Nem sempre consigo dizer o que sinto em linhas, talvez eu não seja mesmo um artista artista, talvez me falte mais sinceridade com meus sentimentos e criatividade suficiente para colocar no papel, mas sou um ser humano.. Alguém lembra disso?

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